Comentário de Ney Lopes: “Julgamento de Bolsonaro em 2022”

Quando alguém olha uma pesquisa eleitoral, a primeira preocupação é saber o percentual de intenções de votos para presidente da República.

O cientista político Antônio Lavareda chama atenção para outras variáveis e fatores, que explicam e afetam as posições dos candidatos na pesquisa.

No caso da sucessão brasileira, Lavareda sugere itens fundamentais para a análise das tendências eleitorais na reeleição do presidente Bolsonaro:  avaliações sobre a conjuntura econômica e o desempenho do governo no combate à pandemia.

O primeiro ponto envolve o “bolso do cidadão”. Regra geral, o eleitor não vota por ideologia tal ou qual.

O voto é medido pela previsão de que a situação possa melhorar, comprar alimentos para a família, ter emprego e os filhos frequentarem escola.

Por tais motivos, todas as políticas de governo devem causar impactos positivos na qualidade de vida das pessoas e não apenas atenderem aos interesses do chamado “mercado”.

Há que ser compatibilizado o discurso responsável com a estabilidade das finanças públicas e a distribuição de renda, para reduzir desigualdades sociais. As duas ações são simultâneas.

A história política mostra alguns exemplos, que confirmam a preocupação prioritária do eleitor com a evolução da economia.

Em 1992, James Carville, estrategista de Bill Clinton, tornou famoso um “slogan” até hoje repetido em campanhas: “É a economia, estúpido”.

O adversário de Clinton era George Bush (pai), à frente das pesquisas. Ele acabara de ganhar a Guerra do Golfo.

Todavia, mesmo nesse contexto de glória na preservação da “segurança nacional” e “soberania”, a economia norte americana enfrentava gravíssima crise, decorrente dos gastos militares excessivos.  

Clinton percebeu o “aperto financeiro” do cidadão comum e dirigiu a sua campanha para anuncio de metas que favoreciam diretamente o bolso, sobretudo dos necessitados.

Mesmo acusado de “populista” e “demagogo”, Clinton propôs redução significativa dos gastos militares e a recuperação da competitividade das empresas norte-americanas. Teve sucesso e em 1996 foi reeleito com o PIB dos Estados Unidos superior à somatória do PIB da Alemanha e do Japão.

Diante da pandemia, o cientista político Lavareda pondera que a decisão do eleitor em 2022 para a presidência da República sofrerá grande influência da forma de combate a catástrofe epidêmica.

Realmente há exemplos históricos de candidaturas inviabilizadas eleitoralmente pelo mau desempenho de governos em guerras, conflitos ou situações semelhantes a atual pandemia.

Lyndon Johnson, presidente americano, não se reelegeu por conta do mau desempenho ao conduzir a guerra do Vietnam, mesmo tendo méritos na sua luta pelos direitos civis dos negros.

A participação americana no conflito foi marcada por polêmicas, com as cenas dos combates chocando a opinião pública americana e mundial.

Outro exemplo de derrota eleitoral, por força de falhas na condução de problema interno, foi do presidente Jimmy Carter.

Após fracassada operação militar no Irã, 52 soldados americanos ficaram como reféns nos cárceres iranianos.

Ronald Reagan, opositor de Carter, mobilizou a opinião pública e apontou a responsabilidade da Casa Branca na crise com o governo iraniano. Ganhou a eleição.

Recentemente, a vitória de Olaf Scholz na Alemanha não foi derrota de Merkel. Ele era o ministro das finanças e geriu a pandemia, não titubeando em quebrar o “teto de gastos” da Constituição alemã para favorecer as classes mais necessitadas.

Essa marca de redução das desigualdades sociais o ajudou na vitória.

Aliás, o resultado da eleição da Alemanha deve servir de exemplo, por ser um “recado” às democracias globais.

Sobretudo para o Brasil, que irá às urnas decidir o seu futuro. A população deseja maior presença e proteção do estado, optando por alternativas que priorizem o social.

Até o FMI realçou em documento, que o aumento da desigualdade social exige medidas voltadas para a abertura de mais oportunidades e redução das disparidades sociais.

O FMI sugeriu taxar ricos e empresas, que lucraram na pandemia.

Pode-se concluir, que as chances de reeleição do presidente Bolsonaro dependerão do “julgamento” do seu governo, em relação a recuperação da economia e a gestão na pandemia.

A “maioria silenciosa”, que não aparece nas pesquisas, estará atenta!

Da Tribuna do Norte | Ney Lopes

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Ney Lopes: “A verdade sobre o crédito educativo e o FIES”

O ministro Paulo Guedes classificou o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) como “desastre”, que enriqueceu meia dúzia de empresários.

Essa é uma história, que precisa ser contada e conhecida a sua verdadeira versão.

Fui o autor, como deputado federal, do projeto de lei nº 274, de 15/04/75, que criou o “crédito educativo” (CREDUC), no Brasil.

O financiamento abrangia “todos” os estudantes das Universidades, públicas e privadas, “sem exceções”, com o pagamento mensal, em média de dois salários mínimos, ajudando nas despesas com alimentação, vestuário, transporte, habitação, mensalidades, livros e material acadêmico.  

O resgate era após dois anos da conclusão do curso, juros especiais, prazo de até o dobro do tempo da graduação, em função da renda e emprego conquistado.

A história da criação do “crédito educativo” em 1975 teve fatos curiosos. 

O então ministro da Educação, senador Ney Braga tornou-se entusiasta da proposta que apresentei, inspirado em modelo conhecido nos Estados Unidos, durante estágio no país.

Logo após o início da tramitação legislativa na Câmara dos Deputados, o jornalista conterrâneo Murilo Melo Filho, de saudosa memória, comunicou-me que estivera com o Ministro Ney Braga, quando ele lhe disse que, com base no texto do projeto de lei nº 274/75, iria implantar o “crédito educativo”, através de uma linha de crédito criada por Resolução do BC, para operações na CEF e BB.

O Ministro considerava mais rápido, do que aprovar a lei no Congresso.

Consultado, logo concordei, por abreviar a vigência do benefício.

Assim nasceu o crédito educativo, a maior conquista e galardão da minha atividade parlamentar.

Em setembro de 1976, o CREDUC, com recursos do Fundo de Assistência Social, começou a liberar empréstimos para o custeio das despesas de estudantes carentes e permaneceu, durante mais de 13 anos.

Em 1999, quando já voltara à Câmara dos Deputados, o governo FHC mudou o nome do programa e apelidou de FIES. A mudança foi para pior.O financiamento passou a ser apenas para os alunos de Universidades particulares. Excluiu às instituições públicas.

Na Câmara dos Deputados, constam inúmeros protestos que fiz, contra a alteração de critérios.

Por integrar a base de apoio do governo, fui afastado da vice-liderança do PFL, pela inconformação manifestada.

Em 2009, tudo começou a destrambelhar.

O presidente Lula resolveu usar o FIES e “escancarou” portas às instituições privadas de ensino e os bancos, entregando de “mãos beijadas”, o comando às Universidades particulares para financiarem as suas próprias mensalidades e “selecionarem” os beneficiários.

Até hoje, bancos privados condicionam a existência de aplicação financeira para liberar o crédito ao aluno carente . 

Como pode acontecer tamanho absurdo? Quem procura o financiamento é por não possuir recursos financeiros. 

Inacreditavelmente, uma simulação feita pelo “Estadão” demostrou, que pela baixa taxa de juros aplicada ao programa, os bancos orientam quem tenha o dinheiro para pagar a mensalidade, receber o crédito do FIES e investir os recursos próprios em títulos do tesouro, com rendimento anual de 12%.

Ao fim do período acadêmico, aquele que financiou, por exemplo, R$ 645 por mês teria economizado R$ 127 mil, já descontado o pagamento do financiamento.

Vê-se, que a ajuda ao estudante se transformou em operação bancária especulativa, com uso de recurso público para lucro privado no mercado de capitais.

Além desse crime, a má gestão do governo permitiu que universidades privadas incluíssem no FIES alunos “fictícios” e assim recebessem valores fraudados.

O “resumo da ópera” é que o TCU constatou descalabro e “rombo bilionário”.

Os contratos firmados nos governos Lula e Dilma, revelaram fraudes e “passivo” de 55 bilhões no programa.

Sinto-me comprometido com o CREDUC, que nasceu de iniciativa pessoal, em 1975.

Por isso, admito, caso tenha legenda, disputar o Senado, em 2022 e voltar ao Congresso para ser advogado de defesa na revitalização do “crédito educativo”, na forma como propus em 1975.

Se a “zebra” acontecer, ajudaria os alunos carentes das Universidades públicas e privadas. Se não acontecer, não terei me omitido.

Aristóteles dizia: “esperança é o sonho do homem acordado”.

Ney Lopes

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