A eleição da esperança vira a eleição da mentira que infunde o medo
O ministro Alexandre de Moraes acertou ao mandar retirar das redes sociais vídeos que associavam Bolsonaro à pedofilia. Não há provas de que Bolsonaro seja pedófilo. Nem de que a casa das refugiadas adolescentes venezuelanas que ele frequentou era uma espécie de prostíbulo. Tampouco, elas são garotas de programa.
Lula já foi abençoado por pastores evangélicos e nem por isso é evangélico. Bolsonaro se diz católico, vai à missa, embora não reze, nem comungue, e, no entanto, é evangélico. Foi batizado no rio Jordão, em Israel, por um pastor acusado e preso por corrupção. Bolsonaro vai à maçonaria, mas não é maçom.
Portanto, Moraes fez muito bem em livrar Bolsonaro de uma falsa acusação. Quanto estrago ela não causaria, ou não causou ao presidente quando faltam só 13 dias para as eleições? Treze dias? Treze? Então, foi o PT o responsável pela disseminação da notícia de que Bolsonaro é pedófilo, ou foi uma vez, ou tentou ser?
Setores do PT espalharam a notícia, sim. Mas o maior responsável, no caso, foi o próprio Bolsonaro. Foi ele, na última sexta-feira, que contou em podcast que “pintou um clima” entre ele e meninas venezuelanas de 14 e 15 anos que moram perto de Brasília. Foi ele, em outro podcast, que disse que elas eram “garotas de programa”.
Se, para Bolsonaro, “pintou um clima”, só se pintou na cabeça dele. Até hoje não explicou o que quis dizer com “pintou um clima”. Sobre a expressão “garotas de programa”, explicou que foi apenas “uma ilação”. Ilação é “o ato de fazer conjecturas baseadas em hipóteses, em suposições, em dados baseados em presunções.”
Como as meninas eram “parecidas, bonitinhas e estavam arrumadinhas” na descrição de Bolsonaro, ele conjecturou, supôs, presumiu que fossem “garotas de programa”. E pediu para entrar na casa delas. Nos podcasts, nada mais disse. Ou disse algo assim, em tom moralista: “E se fossem nossas filhas?”
Salvo ter pintado “um clima” na cabeça de Bolsonaro, o que ele mais insinuou nos podcasts foi mentira. A casa não era uma espécie de prostíbulo, mas um centro de apoio e profissionalização de crianças refugiadas. Elas estavam “arrumadinhas” porque tinham os cabelos cortados e penteados por uma cabeleireira.
Por que Bolsonaro mentiu, e com tamanha crueldade? Primeiro, porque ele mente sempre, e em um vídeo antigo admitiu que política se faz à base de mentiras. Segundo, porque as meninas fugiram de um país cujo ditador é amigo de Lula. E, por amigo, capaz de influenciá-lo, segundo Bolsonaro.
Bolsonaro mente de graça, mente porque é viciado em mentir, mas mente porque o risco de ser derrotado o deixa em desespero. Mentiu à beça durante o debate com Lula na Band. Mentirá até seu último dia no poder, e depois que sair. Como justificar a compra de 51 imóveis com dinheiro vivo, por exemplo? Só mentindo.
Como justificar que receitou cloroquina, droga ineficaz para o combate à pandemia? Só mentindo. Só mentindo pode justificar, ou pensa que pode, o início com atraso da imunização dos brasileiros contra a Covid-19. No debate da Band, disse que o Brasil foi um dos primeiros países a comprar vacinas. Mentiu.
Mente para defender-se e mente principalmente para atacar e infundir medo. Esta eleição, no primeiro turno, foi a eleição da esperança capaz de derrotar o medo. Neste segundo turno, o medo está se mostrando muito mais poderoso do que a esperança. A casa caiu há quatro anos, como se viu. Poderá continuar no chão.
Blog do Noblat
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