NO TEMPO DA MARICOTA
(Crônicas de Walter Medeiros)
Muito antes da tecnologia digital ofercer equipamentos e serviços que criam facilidades inimagináveis há algumas décadas, o trabalho de repórter nas emissoras de rádio para levar a informação ao público com rapidez dependia de muita criatividade improvisações que tornavam a atuação dos radialistas mais fascinante. Até os anos oitenta do século passado, os equipamentos disponíveis para o trabalho de produção dos noticiários, que na rádio Cabugi se chamava de jornais falados, eram o gravador com fita magnética k-7 e o telefone, um meio de comunicação ainda escasso, pois uma linha telefônica tinha quase o valor de um automóvel.
Em 1973 a Rádio Cabugi adquiriu para o trabalho de jornalismo um gravador Telefunken, que ficou sob minha responsabilidade. Sua estreia foi inesquecível. Uma entrevista com o presidente do Clube de Diretores Lojistas – CDL, Luiz Cavalcanti, no escritório que ficava no primeiro andar da Casa das Máquinas, situada na rua Ulisses Caldas. A entrevista durou uns dez minutos. Naquele tempo, repórter de rádio, na maioria das vezes, andava a pé ou de ônibus. Assim fazíamos eu, José Ayrton (Risadinha), Antônio Sales e outros. Na calçada da Casa das Máquinas, antes de seguir para a Ribeira percebi que havia um problema: o gravador novo não soltara a fita para gravar. Tive de voltar e, por sorte, reencontrar o paciente diretor do CDL, que concordou em repetir todas as respostas.
Colocar no ar entrevistas feitas com esses gravadores dependiam de um imenso malabarismo dos operadores, que á época chamávamos de controlistas, e que tinham uma perícia sensacional. Era um time inesquecível: Luth Lopes, Pedro Dias, Decaia, Viana, Paulo Andrade, que soltavam discos de vinil e fitas k-7 conforme o script chegado da redação. E em momentos de maior movimentação, como jornadas esportivas, e grandes coberturas – eleições, carnaval, etc, formava-se uma imensa geringonça.
Mas em meio a tudo aquilo, tão modeno para a época e rudimentar nos dias de hoje, existia um equipamento composto por algumas peças eletônicas – condensador, resistência e plug, que garantia ao jornalismo algumas façanhas, como entrevistar alguém por telefone, ou gravar a participação do repórter ou comentarista, a fim de passar no noticiário. Acoplávamos aquele dispositivo ao gravador e telefone, conseguindo, então, entrevistas memoráveis ou informações em primeira mão e com exclusividade.
Aquele dispositivo, que na rádio era feito pela equipe do grande radiotécnico Ailson Bonifácio, chamava-se MARICOTA. Graças a ela muitas informações importantes puderam chegar ao público com maior rapidez e qualidade. Apesar de estarmos diante das incontáveis funções dos smartfones, lembramos com saudade aquele pequeno instrumento, que teve seu tempo glorioso. Obrigado, Maricota.